terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Oca


Um vazio sem ar,
vácuo asfixiado
Oca
como se feita de lágrimas
lágrimas de alfinetes
Quero bater, matar
quem estiver pela frente
em frente ao espelho
Quero morrer e depois chorar
não quero mais,
não aguento mais
esse vazio de agulhas
Redemoinho, furacão
Não suporto seu peso
sobre a minha cabeça oca
Causa da minha gastura constante
ânsia de vomitar o que não comi

segunda-feira, 15 de novembro de 2010


As coisas têm formas que as nuvens não têm
As nuvens são livres,
têm a forma dos olhos do alguém

Quadro: "Premonição" de Salvador Dalí

domingo, 17 de outubro de 2010

Página Um


Todo início é especial. Único. Quando você senta ao lado de um estranho no ônibus e ele abre um livro na primeira página, você presencia o início.
O primeiro dia de aula na escola nova.
O primeiro encontro dos amantes.
Os primeiros momentos de uma história, de uma viagem.
Que presente! O registro de um momento crucial. Que vontade de assistir tudo o que ele viverá. Que curiosidade de saber o que ele achará do final. O língua coça querendo libertar mil perguntas. Os olhos se arriscam ansiando decifrar cada contração da face. A cabeça inquieta deseja viajar nas mesmas figuras de linguagem.
"Que honra estar ao seu lado neste momento ímpar!"
Por que será que não podemos falar com estranhos?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A morte do Sonho


Extra! Extra!
O Sonho morreu!
Foi baleado à queima roupa
e encontrado morto pela Esperança
que chorou lágrimas vermelhas:
"Era um grande Sonho.
Tinha um belo futuro pela frente.
Perdi o amor da minha vida,
o que vai ser de mim agora?"
Extra! Extra!
O Sonho morreu,
as balas se perderam
e um buraco ficou!
Extra! Extra!
Compre o jornal,
é só dois real!

sábado, 9 de outubro de 2010

Da janela do ônibus

Sentada, olho pela janela
e vejo casas, edifícios,
pessoas, desejos, experiências,
objetivos que se movem
Todos passando rápido,
distorcidos,
como se eu estivesse parada
e tudo fugisse,
mas sou eu que fujo
e continuo...
enquanto tudo fica para trás
gravado em lembranças arrependidas
daquilo que meus olhos não puderam viver

segunda-feira, 27 de setembro de 2010


Por todos os lados
você vê placas de plástico
que ordenam
coma, coma, coma!
E você come
devora mais e mais
quilos, litros, metros
de plástico vazio
até que o plástico
come você

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Um na multidão





Esta será uma série de crônicas cujos protagonistas são pessoas, simplesmente pessoas. Especialmente aquelas mais comuns.




Chuva. É barulho de chuva. Será que eu vou conseguir levantar? Começo a sentir os dedos das mãos. Sim, já posso mexê-los. Passo a mão no rosto, esfrego os olhos, a remela tá ressecada. Minhas pernas, onde estão? Ah...começo a sentir vida nelas, a dor nas canelas voltou. Passar o dia em pé, na loucura do centro da cidade, debaixo de sol quente e dizendo: "vamos fazer o seu Happycard hoje, senhor?" não é mole! Pelo menos tem o cara da ótica que fica me olhando. É um estímulo, não é? Digo, ele não é lá essas coisas, mas no tipo de vida que eu levo, qualquer estímulo é importante.
Já sinto todo o corpo, me espreguiço, só falta levantar. Essa chuva que não deixa... pensa no carinha da ótica, pensa no carinha da ótica. O despertador! acabaram-se os cinco minutos de enrolação. Levanto, vou ao banheiro, tomo banho (congelo!), me olho no espelho. Mais um longo dia... Visto minha calça jeans e percebo que algumas pedrinhas caíram. Droga, era a calça mais bonita! Dá vontade de nem ir trabalhar depois dessa. Pensa no carinha da ótica e na conta de luz... Visto a camisa da empresa, azul celeste, agora desbotada. É a mesma para todas as meninas, claro! Temos que estar iguais. Passo a maquiagem que todas são obrigadas a usar. Eu gosto de maquiagem, mas a gente é obrigada! A sombra azul tá acabando, passo o que fica nas laterais e na tampa para economizar. Batom melancia, deixa a cara mais viva. Será que ele acha bonito? Perfume, só três gotinhas. Penteio o cabelo e prendo com a piranha azul que combina com a farda.
Agora tenho que comer algo porque não jantei. Minha barriga urra! Geladeira, meio copo de leite e o despertador toca novamente, é hora de sair. Pego a sombrinha e vou à parada de ônibus. A parada fica em frente uma mercearia, compro um biscoito. Será que ele vai falar comigo hoje? Será que vai acontecer alguma coisa hoje?

Continua...

sábado, 21 de agosto de 2010
















Alecrim,
alecrim dourado
que me fez sonhar
em ser um canário.

Foi tua doçura
que falou pra mim
que seria meu sonho
cantar Alecrim

Alecrim,
alecrim murcho
que eu não pude regar
e não cresci com você.

Foi tua beleza
que me rasgou o coração
e a ferida que não fecha
sangrará até que termine a canção

Peixe fora do aquário



É tão angustiante, nauseante! Sentir-se a peça errada, torta... impotente...
E a dor é ainda mais fina quando em um lugar onde, a princípio, sentia-se parte, célula e funcional. Em um lugar antes lar. Hoje, tortura... sacrifício...
É triste, penoso desejar não estar onde deveria. Desejar não ter laços de viscosidade, picotar cordões umbilicais, não ser alfinetado por paredes feitas de seus próprios alfinetes.
Que tudo se exploda!
É lacrimoso, nojoso não ser bem-vindo onde é.

domingo, 25 de julho de 2010

Cultura felina

De dia,
homens e mulheres
de todas as Culturas
vem e vão
entorpecidos por seus livros
ou bíblias
por suas normas gramaticais
ou leis
e pelas cadeiras enfileiradas.
Ninguém os nota
ou fingem não notar
ninguém sabe que
à noite
a Cultura é dos gatos
eles são os donos do pedaço
rasgam livros, leis, gramática e cadeiras
deitam, dançam, flertam e rolam
porque a cultura noturna
é o reino felino

terça-feira, 25 de maio de 2010

Helena



Duas faces de moeda rara
Ora diamante inabalável
diante das perdas
até mesmo daqueles mais queridos.
Ora pétala delicada
vulnerável à menor das grosseirias.
Pedra preciosa, rocha intocável,
rosa vivaz e impenetrável
Que mistério são teus pensamentos...
dos tristes aos felizes

Helena, tocha, luz
Mente sã que ilumina
Mão firme que sustenta
Braços macios que dão leito
Sangue quente que alimenta

Quero ser tua
sempre,
como tua eterna criança,
e nunca,
trilhar independência
buscar tua semelhança

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Inspire, expire...

















luz
olhos
b a n h o
c o m i d a
beijo da mãe
ô n i b u s l o tado
v e n t o n a c a r a
pensa,martela,corta,escreve
bife,arroz,feijão,macarrão,farofa
pensa,martela,corta,escreve
b a t e r o p o n t o
ô n i b u s l o t ado
céu azul marinho
ab rir a po rta
l amb i das
be i jo s
banho
cama
vida

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Perfil















Nome: todo que me faz ser
Aniversário: todo que me faz crescer
Música: toda que me faz gritar
Filme: todo que me faz calar
Comida: toda que me faz encher
Lugar: todo que me faz lembrar
Livro: todo que me faz pensar
Frase: toda que me faz parar
Qualidade: toda que me faz sorrir
Defeito: todo que me faz mudar
Amigo: todo que me faz viver
Ódio: todo que me faz seguir
Amor: todo o possível


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Os amores de Hollywood


Quem nunca se pegou numa roda de amigos onde o assunto era identificar os amores de Hollywood, ou seja, seus roteiros favoritos? Pois é, eu também...
Originalidade pra quê te quero:
  • Casal que se odeia e não tem absolutamente nada em comum. Casam-se por algum motivo ridículo (provar pros pais que são responsáveis, tornar-se cidadão americano ou simplesmente tomaram um porre em Las Vegas) e são obrigados a conviver juntos finjindo para alguém que são felizes (é nessas cenas que eles querem que você ria!). Até que um belo dia (ou em um dia chuvoso, eles também adoram pessoas se beijando na chuva) se apaixonam porque se veem nus sem querer e finalmente descobrem que se amam.
  • Professor messias chega a uma turma da pior escola negra, do pior bairro negro, da pior cidade negra de interior negro ou de periferia negra dos EUA negro. Ele fala de sonhos, fantasia, respeito, amor, carinho, fraternidade e os alunos magicamente deixam o mundo da vagabundagem, criminalidade e drogas transformando-se em anjinhos. Até que um belo dia (ou em um dia chuvoso), chega a final da competição (sim, a turma sempre participa de alguma competição - coral, dança, conhecimento científico...) e o aluno que era o mais endiabrado e se tornou o queridinho do professor falta. O salvador vai até a casa do menino buscá-lo e encontra o padastro dele bêbado batendo na mãe dele bêbada e dizendo que ele não vai. Os dois lutam (o professor teve aulas de boxe não sei em que momento da vida), o menino chora, o professor morre, a turma ganha a competição e todo mundo chora.
  • Ex-policial, ou futuro ex-policial, tem sua esposa e filha torturadas, estupradas, mortas e ninguém (ninguém!) parece querer ajudá-lo a investigar o caso. Assim, ele tenta encontrar o assassino sozinho. Encontra e faz justiça com as próprias mãos (em um dia chuvoso). No final, ele aparece de alma lavada e consciência tranquila porque deu um corretivo no cara que destruiu sua família, a qual ele nunca mais vai ter de volta (que alívio, não?).

Movimento


Pare ou estacione
Prender ou segurar
Sólido ou líquido
Ser ou só estar
Pintar ou colorir
Viver ou só passar

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Infância




Eu vi um menino
tocando flauta
no pé de uma construção.
Nunca tinha visto
o menino,
nem a flauta,
nem a construção.
Lembrei dos tempos
que não voltam mais...