sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Adeus, Paranjana!


Aproximadamente 5400 horas. 225 dias de minha vida, ou mais, passei dentro de um paranjana. Parece pouco, mas dentro dele o tempo se expande: 10 minutos parecem uma eternidade. E foram nove anos! Não é qualquer namorico, não! Foi quase um casamento. Viajei nos mais diversos horários, nas mais variadas escalas de lotação. Daquela que dá vontade de chorar de emoção, porque você está escolhendo onde quer sentar, à que dá vontade de chorar porque sua caixa torácica está tão espremida que você não consegue respirar.

Quantas pisadas de pé? Barracos? Palavrões (que o diga, o pobre motorista!)? Aprendi coisas no paranjana. Aprendi sobre sobrevivência, sobre evolução, seleção natural. Vi Fortaleza mutante. Vi muros subirem, caírem, terrenos serem invadidos, desocupados. Onde quer que eu estivesse, ele estaria lá para me resgatar (mesmo que demorasse 40 minutos).

Todos odiavam o paranjana. Todos o repudiavam, criticavam, humilhavam... Ele sempre foi alvo preferido das piadas contra o transporte público de Fortaleza, mas foi só ele partir dessa pra melhor e todo mundo fala de saudade, da falta que vai fazer, das marcas que vai deixar (físicas, inclusive), faz vídeo em homenagem às falecidas linhas gêmeas bivitelinas... Onde estava a falsidade? Nos repúdios ou na agora tão falada saudade?
Eu vou ser muito sincera agora, o que vou dizer é com toda a sinceridade do meu ser, é agora, doa a quem doer, vou revelar uma heresia nunca antes dita:

Eu amava o paranjana.


Um minuto de silêncio, por favor.


Lágrimas enxutas, sim... EU AMAVA O PARANJANA. E não tenho mais receio em dizer isso a quem tiver ouvidos. Pena que agora é tarde! Ele se foi... Nunca mais terei chance de demonstrar meu amor, nunca mais acenarei para que ele abra seus braços para mim, nunca mais viajarei por Fortaleza sem descer em alguma droga de terminal, nunca mais terei tempo de observar a vida através de suas janelas ou mesmo dentro de seu corpo cansado das inúmeras voltas, engarrafamentos, xingamentos, pedradas em dia de jogo no Castelão... ééé, a gente só lembra do nosso sofrimento, mas e o dele?

É claro que eu não sou nenhuma louca de gostar de andar pendurada para fora do ônibus ou, quando conseguia entrar, andar tão espremida quanto... quanto em um paranjana (não dá pra comparar...). É óbvio que eu o xinguei, repudiei, humilhei! Mas quem não faz essas coisas quando se está com raiva? E quem não tem defeitos? Ele tinha. Mas meu amor sempre foi e sempre será verdadeiro. Eu sempre vou te amar, paranjana, seu legado é eterno, seus filhos estão tentado dar o melhor de si (tenho que admitir que estão se saindo melhor do que você), mas nada vai ocupar o vazio que sua partida deixou. O melhor ônibus da minha vida!

Maaas, como diria um grande filósofo de banco de paranjana: "tudo nessa vida é passageiro, menos o motorista e o trocador!".

Mais um minuto de silêncio, por favor, ele merece...

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011


Os óculos permitem a visão
Às vezes, seu peso cansa a vista
Às vezes, o peso da vista me cansa
Às vezes, vejo sem escolher
Às vezes, escolho tirar os óculos
e não ver.
Fecho os olhos
e eles ardem
Vejo sem ver.