
Esta será uma série de crônicas cujos protagonistas são pessoas, simplesmente pessoas. Especialmente aquelas mais comuns.
Chuva. É barulho de chuva. Será que eu vou conseguir levantar? Começo a sentir os dedos das mãos. Sim, já posso mexê-los. Passo a mão no rosto, esfrego os olhos, a remela tá ressecada. Minhas pernas, onde estão? Ah...começo a sentir vida nelas, a dor nas canelas voltou. Passar o dia em pé, na loucura do centro da cidade, debaixo de sol quente e dizendo: "vamos fazer o seu Happycard hoje, senhor?" não é mole! Pelo menos tem o cara da ótica que fica me olhando. É um estímulo, não é? Digo, ele não é lá essas coisas, mas no tipo de vida que eu levo, qualquer estímulo é importante.
Já sinto todo o corpo, me espreguiço, só falta levantar. Essa chuva que não deixa... pensa no carinha da ótica, pensa no carinha da ótica. O despertador! acabaram-se os cinco minutos de enrolação. Levanto, vou ao banheiro, tomo banho (congelo!), me olho no espelho. Mais um longo dia... Visto minha calça jeans e percebo que algumas pedrinhas caíram. Droga, era a calça mais bonita! Dá vontade de nem ir trabalhar depois dessa. Pensa no carinha da ótica e na conta de luz... Visto a camisa da empresa, azul celeste, agora desbotada. É a mesma para todas as meninas, claro! Temos que estar iguais. Passo a maquiagem que todas são obrigadas a usar. Eu gosto de maquiagem, mas a gente é obrigada! A sombra azul tá acabando, passo o que fica nas laterais e na tampa para economizar. Batom melancia, deixa a cara mais viva. Será que ele acha bonito? Perfume, só três gotinhas. Penteio o cabelo e prendo com a piranha azul que combina com a farda.
Agora tenho que comer algo porque não jantei. Minha barriga urra! Geladeira, meio copo de leite e o despertador toca novamente, é hora de sair. Pego a sombrinha e vou à parada de ônibus. A parada fica em frente uma mercearia, compro um biscoito. Será que ele vai falar comigo hoje? Será que vai acontecer alguma coisa hoje?
Continua...
ah, tu escreve coisas tão simples, singelas...
ResponderExcluircomo pode tanta beleza caber em tanta simplicidade?