segunda-feira, 26 de março de 2012

A outra eu


Por toda a vida, ouvi pessoas estranhas a mim, de todos os tipos e lugares, afirmarem que meu rosto não lhes é estranho. Posso ter a memória péssima para muitas coisas, mas para rostos não é o caso. Assim, todas as vezes que isso acontece, sinto um medo e um desejo secretos, selvagens, insanos, de que exista outra eu por aí. Destemida, atrevida, cara-de-pau. Fala com as pessoas e gargalha imaginando a minha cara ao escutar de um estranho "eu te conheço de algum lugar..." uma vez por mês.

Tenho medo do que ela é capaz, pois ela não tem nada a temer, perder...
Tenho desejo de que ela exista e realize tudo o que sou covarde o bastante para não cometer!

E num milésimo de segundo, volto ao cômodo "mundo real". E tento matar as loucuras dentro de mim:
sou só mais um rosto fácil de copiar...

terça-feira, 6 de março de 2012

Libras, a segunda língua de um país inclusivo




Entrei em uma loja de roupas, escolhi algumas e fui até o provador. Lá, a moça que conta as roupas me recebeu com um doce "Bom dia!" e iniciou a contagem. Quando ela terminou, começou a gesticular e emitir sons, apontando para as roupas, tentando me dizer alguma coisa. Foi aí que notei que ela era muda! Como eu havia acompanhado a contagem das peças (eram 10) e ela estava separando uma do restande, concluí que eu só podia entrar com 9 no provador (ela guardou a 10ª para que eu pegasse depois).

Depois desse breve momento de confusão, entrei no provador e comecei a refletir sobre o que aconteceu:
"Como a empresa coloca uma pessoa surda no atendimento ao público? É inviável! Fica complicado de se comunicar e..."
Não tive tempo de concluir o pensamento. Imediatamente (e felizmente), um pensamento mais sensato grita em minha mente:
"Peraê, rapá! Quem tá errada aqui é você! Você é que deveria saber libras e não a garota que deve ser privada de trabalhar em qualquer área que seja!"

Libras deveria ser ensinada nas escolas desde o ensino fundamental, isso sim seria inclusão! Os surdos, infelizmente, ainda são excluídos da sociedade porque só eles recebem ensinamentos em libras. As demais pessoas aprendem quando vão procurar (escassos) cursos (com poucas vagas), ou seja, quando lhe desperta o interesse. E quando isso acontece? Quando falamos de parentes e educadores, basicamente. O restante da população está muito bem, obrigado, e não tem motivo algum para estudar essa língua.

Na educação básica, somos obrigados a estudar inglês, e agora também espanhol, para que possamos melhor receber nossos visitantes tão amáveis conosco quando vamos visitá-los (tá, eu sei que é importante mesmo, globalização e outros fatores, blá, blá, blá). Agora, Libras, que é uma língua brasileira, falada por brasileiros, nem é lembrada na hora de se pensar o currículo dos ensinos fundamental e médio. A inclusão desses brasileiros NUNCA acontecerá enquanto eles estiverem falando SOZINHOS.

Segunda língua? Segunda língua nada! Não era nem pra haver essa hiarquia em relação ao português.

obs.: só lembrando, ou informando, que alguns surdos falam.

obs².: segundo semestre de 2011, depois de outubro, eu acho...