quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Cicatrizes literárias


Algumas leituras marcaram minha vida como um tijolo é essencial para que toda a casa exista. Se eu não houvesse lido algumas delas, não seriam as minhas palavras que você estaria lendo agora, mas as de outra pessoa. Assim, todo dia, sinto o peso das palavras lidas há tanto tempo, mas que fluem em minhas veias até hoje.

Dentre várias, algumas são bem especiais. A primeira foi o livro Ou isto ou aquilo de Cecília Meireles. Um livro de poesias, o qual ganhei de minha mãe. Tudo bem que era um paradidático, tudo bem ter lido "forçada" aos 6 (ou seriam 7) anos de idade, mas isso não tira a magia do efeito daquelas poucas páginas. Foi esse livro que me disse: "Olá, sou a poesia" pela primeira vez. E eu, graças às musas, respondi: "Muito prazer!". Como um texto tão pequeno pode dizer tantas coisas (além do que está literalmente escrito)? É claro que eu não pensava sobre isso ao mesmo tempo em que me apaixonava à primeira lida, mas se penso nisso, foi por causa desse livro. Hoje, creio que posso me considerar uma "tentativa de poetisa". Infelizmente, não sei onde meu exemplar de Ou isto ou aquilo está, mas sei que está riscado e recortado em algumas folhas (valeu, irmãzinha). Por que diabos não o guardei com cuidado?!

Outro livrinho foi Marcelo, marmelo, martelo de Ruth Rocha, o qual continha três pequenas histórias, sendo a primeira, cujo nome batiza o livro, a minha preferida. Fala de um menino que não queria aceitar os nomes que as coisas tinham, simplesmente, porque não faziam o menor sentido. Por que cadeira se chama cadeira e não sentadeira? E colher? Por que não: mexedor? E Marcelo, e marmelo, e martelo? Esses questionamentos me contaminaram de tal forma que me rendem dores de cabeça diárias até hoje: cadeira... cadeira?

Então, eis que chego em casa à noite (uns 15 anos depois) e encontro um pacote grande de um famoso site de compras, entregue pelo correio, endereçado a mim. Depois de um telefonema para o meu amado, descubro que é um presente surpresa de aniversário. Rejuvenesci uns 15 anos com a notícia e me pus a abrir o pacote. Não pude conter as lágrimas ao tocar a coleção completa de Calvin e Haroldo de Bill Watterson. Poucas leituras mexem tanto comigo como os quadrinhos do menino e seu tigre. Como não sentir novamente o cheiro do livro de português sendo folheado ainda em janeiro para procurar e ler todas as tirinhas de uma vez? Como não sorrir e chorar ao ler a vida dessa criança (ou de todos nós)? Como resumir a infância, os pais, a vida escolar e o sexo oposto tão bem quanto o filósofo protagonista das tiras? Como não lembrar de que, em algum ponto do passado, eu fui Calvin e Haroldo foi meu amigo? Como não querer morrer ao olhar para Haroldo e ver um bicho de pelúcia?

Não sou de ler muito, aliás gostaria de ler muito mais (demoro 24563 dias em um livro), não é a intenção desse texto mostrar que li algo e fingir ser intelectual por isso (até porque... olha os livros que citei kkkkkk) como vejo muita gente fazer em blog, infelizmente. Sem querer ser romântica ou qualquer coisa do tipo. É inexplicável o que a leitura pode fazer com a sua vida. 

Obs: Isso me lembra outro post! Para ver, clique aqui.

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